sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cartas para ninguém...


Em julho de 2008 abri uma pasta no meu computador intitulada “Cartas para ninguém”. Na verdade as cartas tinham endereço certo, destinatário próprio mas, diante da impossibilidade de serem enviadas, acabaram por permanecer ali.
Escrevi nesse lugar de julho a dezembro. Quase todos os dias e às vezes, até mais de uma vez. Escrevia porque sentia uma necessidade tão intensa de dizer o que sentia, de chorar, de aliviar e aquele pareceu o melhor lugar de todos. E acabava sendo o melhor momento do meu dia. O momento em que eu podia chorar, dizer que sentia a falta de um amor que veio e arrasou a minha vida, que foi tão perfeito e que, talvez por isso, tenha causado tanto estrago.
Lá eu podia dizer o quanto me sentia decepcionada, enganada, humilhada por tudo que aconteceu, pela forma que terminou e, principalmente, por tudo que tive que agüentar por meses depois do fim.
A primeira carta foi um pedido de socorro. Uma das piores noites da minha vida. Fazia um mês do fim do namoro que até então eu ainda não entendia a causa exata e, por MSN através de um amigo eu encontro todas as respostas.
Eu já chorei muito na minha vida, mas aquela noite foi sem comparação. Porque ali eu percebi que realmente tinha acabado o meu conto de fadas e que meu príncipe encantado não passava de um sapo como tantos outros por aí.
Já era bem tarde, eu estava em casa sozinha meus amigos mais próximos estavam a 300km e eu não podia ligar pra ninguém daquele jeito. Eu não conseguia dormir, faltava o ar, meu peito doía, os olhos ardiam de tanto chorar. Então que sentei em frente ao computador, abri o Word e fui escrevendo. Tudo que eu queria dizer a ele, xinguei, quis saber o porque, gritei. E todo aquele desespero foi passando. Foi aliviando até que consegui deitar, respirar melhor e dormir.
A partir disso, sempre que estava com muita saudade, raiva dele ou de mim,  triste, e não queria incomodar meus amigos a mais do que já incomodava, abria o computador e despejava tudo.
Em dezembro escrevi a última carta, não sinto mais necessidade delas. Com o tempo fui entendendo o que aconteceu, aceitando o que não podia ser mudado e, de alguma forma, retirando toda a mágoa que sentia. Hoje ainda lembro o que aconteceu, ainda estou no caminho para conseguir esquecer de verdade. Mas as coisas não doem mais da mesma forma. As lembranças não pesam como antes e, relendo tudo que escrevi, vejo o quanto estou melhor

Foram meses muito difíceis, muitas pessoas que me conhecem e acompanharam a estória quando me encontram ficam admiradas de como eu superei rápido. Podem acreditar que o baque foi duro mesmo. E eu sofri de um jeito que não imaginava que fosse possível. Mas está passando. Aos pouquinhos, sem me agredir nem me forçar a nada. Sem ficar desesperada atrás de outro homem que me faça esquecer. Eu prefiro esquecer sozinha. Me refazer, me encontrar, “podar o meu jardim e cuidar muito bem de mim”.
Porque de tudo que essa estória me trouxe de ruim, já consegui enxergar também as coisas boas. E não são poucas. E eu agradeço por isso.

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